terça-feira, 25 de maio de 2010

Do Desejo

II

Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.

V

As maçãs ao relento. Duas. E o viscoso
Do Tempo sobre a boca e a hora. As maçãs
Deixei-as para quem devora esta agonia crua:
Meu instante de penumbra salivosa.
As maçãs comi-as como quem namora. Tocando
Longamente a pele nua. Depois mordi a carne
De maçãs e sonhos: sua alvura porosa.
E deitei-me como quem sabe o Tempo e o vermelho:
Brevidade de um passo no passeio.

~

Comprei um livro da Hilda Hilst ontem, tendo postergado isso por muito tempo na minha vida. Antes tarde do que nunca, né?!

Os poemas II e V foram retirados, respectivamente, dos livros Do Desejo e Amavisse. Os dois livros integram a obra homônima Do Desejo (Editora Globo), reunião de sete livros da autora, produzidos num intervalo de seis anos. 
Hilda faleceu em 2004, na cidade de Campinas (SP).

Um comentário:

george araújo disse...

antes tarde do q à tardinha...
lindo lindo!
parabéns pelo blog
e obrigado pela visitinha ;)
sucesso


beijos
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