segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

rio

quando fui ao rio, chorei no metrô, na estação estácio. não poderia ser diferente, já que se é pra morrer de morte de amor, que seja no estácio, como diz a/o melodia. acho que minha paixão pelo rio começou ali, naquela veia, no metrô onde circulam as gentes daquela cidade. o rio dos contrastes entre suas ribanceiras, logo se mostrou pra mim num sorriso, na fala puxada no x e no a adicionado a cada palavra. a cidade me puxou pelo braço da tijuca a são cristóvão, vila isabel, méier. zona sul de braços abertos, arpoador, vidigal, luzes da cidade. saudade do rio, de me perder na cidade, de me achar.

sábado, 7 de abril de 2012

CAMELOS TAMBÉM CHORAM (2003)


Aos camelos, Deus deu chifres como recompensa pelo seu bom coração. Também por terem um bom coração, os camelos atenderam ao pedido dos veados e emprestaram seus chifres a eles, que desapareceram rumo ao Ocidente e nunca mais os trouxeram de volta. Por esse motivo, os camelos até hoje aguardam a devolução de seus ornamentos com um olhar esperançoso para o horizonte.

Essa história nos é contada em plano médio cinematográfico por um ancião de uma aldeia do deserto de Góbi, Mongólia, lugar onde vive da criação de camelos e cabras com sua família; o filme chama-se Camelos também choram (Alemanha/Mongólia, 2003), documentário dirigido por Byambasuren Davaa e Luigi Falorni. A interpretação do ancião para o olhar do camelo nos diz bastante sobre o tom dos próximos minutos de filme: as lendas são formas de significar o mundo ao redor e podem fornecer explicações plausíveis e verdadeiras para as sociedades que as constroem e que, a partir delas, se posicionam nesse mundo.


A primavera no deserto de Góbi traz o nascimento de um rebanho de camelos. O primeiro proto (como os nativos daquele lugar chamam os camelos filhotes) do ano é abençoado com uma espécie de coleira trançada com lã de camelo, que é presa entre sua cabeça e pescoço. Esse ritual abençoa o recém-nascido e faz com que suas bossas – onde armazenam substâncias nutritivas e líquido para que não desidratem no deserto - cresçam saudáveis e seus cascos fortes. Um dos animais tem um parto doloroso, sendo que após dois dias e muito esforço nasce um pequeno camelo branco. O proto (Botok) é rejeitado prontamente por sua mãe (Ingen Temee), que não lhe dá atenção, nem leite - esse drama vai permear todo o percurso do filme. A angústia, a tristeza e a maternidade, considerados sentimentos eminentemente humanos, são para os sujeitos imbricados nessa situação atributos também dos camelos, animais que realmente choram. Temos, assim, uma espécie de personificação daqueles animais, que, de certa forma, nos tornará sensíveis à leitura do filme. Talvez a dicotomia ocidental entre natureza/cultura, animal/humano não caiba de forma tão fechada neste nicho. Aqui cabe, no entanto, a pergunta: quais seriam os motivos de rejeição ao filhote, seu albinismo ou o sofrimento do parto (e uma possível depressão pós-parto)?

É possível que os cineastas Davaa e Falorni não cedam apenas a uma resposta e admitam, através de seus “personagens”, as duas opções. O bloqueio materno em manifestar cuidado pelo filhote pode ter sido disparado por fatores relacionados às complicações do próprio parto. Nesse momento, a maternidade coube a Odgoo, jovem mãe da comunidade, que tenta por inúmeras vezes uma aproximação entre os dois animais e que, nesse meio tempo, tira o leite da mãe-camelo e dá de mamar ao filhote. Mas essa manobra não era suficiente para que o proto pudesse sentir-se inteiramente acolhido e capaz de “confiar” em suas próprias possibilidades de desenvolvimento.

Se nos propusermos a estabelecer uma relação entre sentimentos humanos e o comportamento dos animais, podemos falar também sobre uma possível expectativa dessa mãe-camelo sobre seu filhote, que nasceu diferente dela - albino. Abre-se, então, uma possibilidade de reflexão sobre o outro, sobre a diferença. E abre-se mais ainda um jogo de significações em que as diferenças, o conflito e a aceitação entre gerações - não somente entre camelos - pode ser pensada. Acredito ser essa a principal discussão trazida pelo documentário.

A solução encontrada pela família mongol diante desse evento vem de sua tradição. Os mais velhos da família acreditam que apenas o comprimento do ritual Hoos pode interceder sobre essa situação. Enviam, então, seus dois garotos, Dude e Ugna, em uma viagem pelo deserto até uma cidade próxima, onde encontrarão um violinista para o ritual em que os laços entre mãe-camelo e filhote serão novamente conectados. A partir daí tem início, de fato, a discussão a que o documentário se propõe.

O filme de Davaa e Falorni é uma lupa sobre uma determinada comunidade local, mas diz muito sobre o global. A viagem que leva os meninos à cidade flagra o instante do “choque” (para nós espectadores?) entre duas maneiras distintas de vida em lugares tão vizinhos. A surpresa experimentada pelo menino mais novo, Ugna, ao se deparar com aquilo que não era familiar - a televisão, os videogames e todas as “parafernálias” tecnológicas – é exemplar desse choque. Sabemos que as pessoas têm participação diferenciada dentro de uma determinada cultura, dependendo de fatores como faixa etária, posição social, gênero, etc. Para o pequeno Ugna a novidade não parece ter sido enxergada como algo desestruturante, que ameaçasse sua tradição; pelo contrário, veio revestida pelo olhar admirado e desejoso. Mas, talvez, para o ancião do começo da história, seu avô, esse mesmo contato tenha uma assimilação diferenciada, por se tratar de alguém mais velho, mais imerso naquela tradição cultural. Ao mesmo tempo, ao passo que o proto sente pela primeira vez o gosto do leite e o gosto do mundo, Ugna experimenta pela primeira vez o barulho da cidade e o barulho das imagens animadas.


Mas o espanto não se circunscreve apenas àquele que chega a um lugar novo; a comunidade que o recebe também o estranha, o segue com o olhar curioso de quem examina o não familiar. A cena em que os dois meninos entram numa loja para comprar pilhas pode ser tomada como imagem desse momento de perícia. O outro, nesse sentido, também é confrontado com o seu avesso, com o que não lhe é familiar – as vestes dos meninos, por exemplo, tão diferentes das vestes dos habitantes daquela cidade.


Camelos... nos coloca frente às interseções e disparidades específicas dessas duas comunidades que exercem seu contato com o mundo de forma tão própria. Enquanto numa, os sentimentos comunitários e de relação básica com a natureza ainda estão presentes; noutra, fazem-se presentes as práticas mais individualizadas, assim como, as experiências mediadas pela tecnologia visual – televisão, videogame, etc.


Uma outra questão interessante é a construção da narrativa, que nos convida à reflexão sobre a escrita cinematográfica, já que não fica clara (nem tão pouco deveria) a opção dos diretores pelo documentário ou pela ficção. Assim como a lenda, Camelos também choram fica ali na interseção entre o real e o olhar que constrói a realidade, revelando-se como um discurso sobre o outro. Essa forma de escritura do filme me remete aos documentários do cineasta Robert Flaherty, principalmente Nanook, o Esquimó (1922), em que o diretor acompanhou durante um ano a vida de uma família de esquimós no Ártico. O filme de Flaherty chegou a suscitar na época críticas sobre situações claramente encenadas para as câmeras, e a discussão sobre a especificidade da escrita no documentário e na ficção cinematográfica - existe a possibilidade de se captar uma realidade sem de alguma forma alterá-la? Como cinema é linguagem, talvez a resposta seja não.

sábado, 31 de março de 2012

que os bons ventos soprem. que soprem com delicadeza e força, porque essa é uma oposição apenas aparente.

domingo, 20 de novembro de 2011

domingo, 6 de novembro de 2011

Filmes

Singing in the rain
Cidadão Kane, Orson Welles
Neblinas e sombras, Woody Allen
Tudo pode dar certo, Woody Allen
Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen
Meia noite em Paris, Woody Allen
Você vai conhecer o homem de sua vida, Woody Allen
Match point, Woody Allen
Um misterioso assassinato em Manhattan, Woody Allen
Hanna e suas irmãs, Woody Allen

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Corpo

Um homem de 25 anos
1/4 de vida
Na América do Sul
Está tentando dançar
Ou recordar em seu corpo
A natureza esquecida
Moldada pelo tempo
Como a erosão
Só que em um corpo que já foi mole
E que hoje já não é mais

Um retalho com as marcas
De uma carne viciada
É o corpo
Já acostumado a não ser esguio
Peitos para frente

Uma carne ressonante
Querendo aprender a ser levado
Pela música do Ballet
Contemporâneo

Com pés descalços
Ele quer se encontrar
E só arriscando poderá dançar
Seu corpo agoniza, anseia

No chão, um passo
Outro

Memórias do corpo

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

para Skinner

sem mentalismo
comporta-mentalismo!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Silêncio

a grito
encolhido
me deixa
surdo


louco
um ab-surdo de silêncio
um grito inacabado
calado


daqueles silêncios ensurdecedores
daqueles silêncios em que se dizem
tudo

domingo, 28 de agosto de 2011

Aroma amora

amor sabor amora
derrama em mim
aroma aurora

me passa agora
em Roma
de dentro a fora
pardal, preá, pandora

nem mora
nem n'amora

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Maré baixa

No inverno de agosto
Eu gosto quando é lua cheia
E a maré baixa
Revela a areia
Transformada em esconderijo pros amantes

domingo, 7 de agosto de 2011

A casa esvaziada
hermeticamente arrumada,
simetricamente alinhada,
um silêncio!

A casa, o vento,
o assento vazio,
um evento normal,
estar parado,
paralisado,
mudando canal.

terça-feira, 15 de março de 2011

.

uma pessoa é um lugar

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Sites, filmes e livros de 2010

Com atraso, o que me preencheu no ano passado.
O meu começo de ano foi turbulento: meu avô morreu no dia de Yemanjá, depois de quase um mês lutando no hospital e minha vida parece um caos depois disso tudo :/ felizmente ainda resta esperança em meu coração, só preciso (precisamos) ter calma... 
Bom ano novo para todos!
Site/Blog:

Filmes:
O Mágico de Oz, Victor Fleming
O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Michel Gondry
Jules e Jim, François Truffaut
Sonhos, Akira Kurosawa
A Ilha do Medo, Martin Scorsese
Toy Story, John Lasseter
Alice no País das Maravilhas, Tim Burton
Amarcord, Federico Fellini
Magnólia, Paul Thomas Anderson
O Talentoso Ripley, Anthony Minghella
Durval Discos, Anna Muylaert
As Bruxas de Salém, Nicholas Hytner
Poucas e Boas, Woody Allen
Harry Potter e as Reliquias da Morte, David Yates
Toy Story 3, Lee Unkrich
Filadélfia, Jonathan Demme
Taxi Driver, Martin Scorsese
O Clube Dos Cinco, John Hughes
Menina de Ouro, Clint Eastwood

Livros:
O design do livro, Richard Hendel
Factótum, Charles Bukowski
Do desejo, Hilda Hilst
Eis aqui os bossa-nova, Zuza Homem de Mello
Diário de um ano ruim, J. M. Cooetzee
Elementos do design, Timothy Samara
Evolução do design, Timothy Samara
Psicologia - uma (nova) introdução, Luís Claudio M. Figueiredo
A invenção do psicológico, Luís Claudio M. Figueiredo
Compreender o behaviorismo, Willian Baum
Os contos de Beedle, o bardo, J. K. Rowling
Totem e tabu, Freud
As cidades invisíveis, Ítalo calvino

Salve 2011!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

empirismo

o empirismo valoriza os sentidos
mas o homem é mesmo uma tabula rasa?
sei não...
se for, não faz mal; com essa coisa de se construir a partir da experimentação dos sentidos, é importante estar em contato com
coisas coloridas e gostosas,
de apertar,
de ouvir
e de comer.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

de longe

amantes andantes
propõem um romance
de longe!
em olhares afins.

o simultâneo palpitar simula coreografia
parara-tim-bum ♥
parara-tim-bum ♥

quando um olhar percebe outro olhar
é de se apostar sedução.
se prende, finge-se não ver!
se perde, procura de repente
o flerte
pisca lentamente

um conselho?
corre o risco!
a solução é tirar a prova dos 9
das duas, uma:
ou vai, ou racha!
ou risos!


# para Amanda, com todo tempêro da Timbalada rs

sexta-feira, 16 de julho de 2010

o que é que ela tem que me convêm saber
que seja proveitoso pro meu projeto de tê-la
de me modificar pra que a ti combine

o que cabe em ti saber de mim
que me surpreenda em sua admiração
que me suspenda ao seu olhar
me notando

quem é essa mulher
mistério
anti espelho de mim
que me serve com sua presente corpo império
de beleza
e sai destinada a enfeitiçar outros olhares
surpresa

uma qualquer, sem nome
que passou por aqui
em silêncio
e some